Estudo aponta que apenas 9 em cada 116 profissionais de IA em filmes são mulheres

08
mar

Um estudo realizado pela Universidade de Cambridge, publicado pelo The Guardian em fevereiro deste ano, evidencia que uma longa corrente de filmes, como Homem de Ferro e Ex Machina, ajudou a estabelecer a desigualdade de gênero sistêmica na indústria de Inteligência Artificial, por meio da representação de pesquisadores de IA quase que exclusivamente como homens.

De acordo com os autores, o enorme predomínio de homens como líderes de pesquisas em IA em filmes moldou a visão do público da indústria, e se mostra capaz de contribuir para uma dramática falta de mulheres na mão-de-obra da tecnologia.

Além do impacto no equilíbrio de gênero, o estudo gera preocupações a respeito dos efeitos de produtos que favorecem usuários homens, pois eles são desenvolvidos pelo que a ex-funcionária da Microsoft Margaret Mitchell chamou de “um mar de caras”.

“Visto que engenheiros homens foram muitas vezes mostrados montando produtos mais adequados e adaptados ao público masculino, contratar mais mulheres é essencial na introdução de visões parciais e estereótipos pejorativos nas tecnologias de IA”, relatam os autores.

A Universidade de Cambridge avaliou mais de 1.400 filmes lançados entre 1920 e 2020, afunilando-os até montar o grupo dos “142 filmes mais influentes que apresentam inteligências artificiais”. A análise identificou 116 profissionais de IA. Apenas 9 deles eram mulheres, e 5 delas ou trabalhavam para um homem, ou eram a filha ou a parceira de um engenheiro de IA mais experiente.

A Dra. Kanta Dihal, uma das autoras do estudo e pesquisadora do Leverhulme Centre for Future Intellgence, disse que parte do viés machista foi um caso de “a arte imitando a vida”, onde os cineastas retratam profissionais de IA como homens para refletir o domínio masculino na indústria. Se, na vida real, 1 em cada 5 engenheiros de IA é uma mulher, no cinema, as mulheres são 1 em cada 10. “Eles estão exacerbando o estereótipo que enxergam”, diz Dihal.

A falta de engenheiras de IA em tela também pode estar ligada à escassez de mulheres atrás das câmeras. De acordo com um outro estudo, publicado no jornal acadêmico Public Understanding of Science, nenhum filme de alta exposição sobre IA no último século foi dirigido apenas por uma mulher.

Dihal acredita que a perpetuação de estereótipos masculinos é danosa em vários níveis. Primeiramente, existe o impacto na opção de carreira, com as mulheres sendo potencialmente desencorajadas pela percepção de que “a IA é apenas para homens”.

Em segundo lugar, existe o efeito nos processos de contratação, que podem enxergando homens como “mais culturalmente adequados” para uma firma de tecnologia. Depois, há a cultura presente nos escritórios: “Se uma pesquisadora de IA entra no ambiente de trabalho, com quais estereótipos e suposições ela vai ter de lidar?”, disse a doutora.

Quem também se manifestou a respeito do tema foi Wendy Hall, professora de Ciência da Computação da Universidade de Southampton: “Claramente, a mídia possui enorme influência nas decisões que os jovens tomam a respeito de suas futuras carreiras. Se a IA for percebida como uma profissão dominada pelos homens, isso vai dificultar ainda mais as tentativas de corrigir a situação atual. O problema é que não existem soluções rápidas.”

Judy Wajcman, professora de Sociologia da London School of Economics, acrescenta: “Imagens retratando o domínio dos homens na cultura popular claramente impedem a entrada das mulheres nesse campo. O ponto-chave é como os líderes de trabalhos com hi-tech são retratados como gênios visionários, reforçando a ideia de que as mulheres não são feitas para o ramo. Eu apoio fortemente o desejo dos autores de um aumento significativo na representação cinematográfica de mulheres na IA. Porém, ao mesmo tempo, precisamos mudar a realidade refletida por esses filmes, com o objetivo de aumentar a diversidade dos papéis de liderança em IA. Outro obstáculo é a cultura ‘tech bro’, que dificulta o florescimento das mulheres nesse setor.”

 

 

Fonte: The Guardian

Traduzido e adaptado por Lucca Caixeta

08/03/2023

Link da matéria original: https://bit.ly/3jVjdWP

Categorias:#Noticia

Postado por lucca em 8 de março de 2023

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